sexta-feira, janeiro 27, 2006

Olá a todos!

Este é o post inaugural do blog "Ópera pelo mundo", no qual se falará nessa grande arte que é a ópera! (Agradeço imensamente ao Mário pela oportunidade!)
O dia de hoje não poderia ser mais especial: hoje se comemoram 250 anos de nascimento de um dos maiores gênios que a Música veio a conhecer. Trata-se de ninguém menos que Wolfgang Amadeus Mozart. Além disso, há 105 falecia um dos maiores compositores operísticos do século XIX, Giuseppe Verdi.
Assim, preparei para este post uma breve biografia de ambos. Aos poucos, em outros posts, com certeza falarei mais deles.

Wolfgang Amadeus Mozart
(Salzburg, 27.01.1756 - Viena, 05.12.1791)


Nasceu em 27 de Janeiro de 1756, na cidade de Salzburg (Áustria). Filho de Anna Maria e Leopold Mozart, aos três anos começou a demonstrar sua facilidade para a música - facilidade essa que levou o pai a viajar com ele por toda a Europa, exibindo seu Wunderkind a todas as cortes européias.
Nessa época Mozart compôs suas primeiras obras, que se constituíam principalmente de duos para piano - executados ao lado de sua irmã Maria Anna (Nannerl). Além de ser um prodígio musical, o jovem compositor tinha um notável ouvido absoluto e uma excelente memória auditiva: numa de suas viagens à Itália, em 1770, depois de ouvir na Capela Sistina o "Miserere" de Gregorio Allegri, Mozart foi capaz de passar para o papel toda a obra - sem errar uma só nota!
Durante suas viagens, o compositor conheceu muitos músicos renomados, como o Padre Martini e Johann Christian Bach (filho de Johann Sebastian). Decidiu, em 1781, fixar-se em Viena, tendo se casado no ano seguinte com Constanze Weber (1762-1842), com quem teve dois filhos: Karl Thomas (1784-1858) e Franz Xavier Wolfgang (1791-1844). Nenhum de deles se casou ou teve descendentes.
Os anos seguintes foram de muito trabalho para Mozart, que teve uma condição financeira bastante atribulada durante toda a sua vida. Embora tenha composto muitas obras, sobretudo financiadas por mecenas, seu estilo de vida era um tanto extravagante, consumindo toda a renda recebida.
Em 1784, Mozart se tornou maçom. Esse fato, aliado à influência que o compositor recebia do Iluminismo, seria observado em muitas de suas obras - como sua última ópera, Die Zauberflöte ("A Flauta Mágica"), de 1791.
A doença que levou Mozart à morte ainda é um mistério: durante o Romantismo, muitas hipóteses foram levantadas - até mesmo um possível envenenamento encomendado pelo "rival" Antonio Salieri (1750-1825). Morto em 5 de Dezembro de 1791, o compositor foi enterrado em uma vala comum, sem as honrarias que se esperaria a uma figura ímpar como ele foi.
O estilo das obras mozartianas é predominantemente clássico, embora suas primeiras obras tenham recebido influência do Barroco - e, para alguns, suas últimas obras já sejam prenúncios do Romantismo (ou, mais especificamente, do Bel Canto tardio). Influenciado por Bach e Haydn, Mozart também serviria de inspiração para compositores como Rossini e Beethoven, que muito o admiravam.
Mozart criou obras de todo tipo: concertos, sonatas, sinfonias e, claro, óperas. Sua primeira foi composta aos onze anos de idade, e já mostra um músico preocupado com a forma e consciente dela. A maior parte das óperas mozartianas ainda está no repertório, principalmente suas três comédias italianas, todas com libretto de Lorenzo Da Ponte: Le Nozze di Figaro ("As Bodas de Figaro", baseada na peça Les noces de Figaro, de Beaumarchais), Don Giovanni ("Don Juan", a história do famoso conquistador) e Così Fan Tutte ("Assim Fazem Todas").
É interessante observar, não só em suas óperas, a força da composição de Mozart: até hoje, duzentos e cinqüenta anos depois de seu nascimento, sua música ainda encanta e surpreende. Se ele não foi “revolucionário”, soube muito bem usar de seu gênio musical para compor obras que fazem parte do patrimônio cultural da Humanidade.

Lista das óperas compostas por Mozart
Entre parênteses, a tradução (se necessária), o nome do(s) librettista(i) e a data da première

- Die Schuldigkeit des ersten Gebotes ("A Obrigação do Primeiro Mandamento"; Ignaz Anton von Weiser; 1767)
- Apollo et Hyacinthus (Rufinus Widl; 1767)
- Bastien et Bastienne (Friedrich Wilhelm Weiskern e Johann H. F. Müller, revisado por Johann Andreas Schachtner; 1768)
- La Finta Semplice ("A Falsa Simples"; Carlo Goldoni e Marco Coltellini; 1768)
- Mitridate, Re di Ponto (Vittorio Amedeo Cigna-Santi; 1770)
- Ascanio in Alba (Giuseppe Parini; 1771)
- Betulia Liberata (Pietro Metastasio; 1771)
- Il Sogno di Scipione (Pietro Metastasio; 1772)
- Lucio Silla (Giovanni de Gamerra, revisado por Pietro Metastasio; 1772)
- Thamos, König in Ägypten ("Thamos, Rei do Egito"; 1773)
- La Finta Giardiniera ("A Falsa Jardineira"; Giuseppe Petrosellini; 1774)
- Il Re Pastore (Pietro Metastasio; 1775)
- Zaide (Johann Andreas Schachtner; 1779)
- Idomeneo (Giambattista Varesco; 1780)
- Die Entführung aus dem Serail ("O Rapto do Serralho"; Johann Gottlieb Stephanie der Jüngere; 1782)
- L'Oca del Cairo ("O Ganso do Cairo"; Giambattista Varesco; 1783) [ópera incompleta]
- Lo Sposo Deluso ("O Esposo Iludido"; librettista desconhecido; 1783) [ópera incompleta]
- Der Schauspieldirektor ("O Empresário"; Johann Gottlieb Stephanie der Jüngere; 1786)
- Le Nozze di Figaro (Lorenzo Da Ponte; 1786)
- Don Giovanni (Lorenzo Da Ponte; 1787)
- Così Fan Tutte (Lorenzo Da Ponte; 1789)
- La Clemenza di Tito (Pietro Metastasio; 1791)
- Die Zauberflöte (Emanuel Schikaneder; 1791)

Giuseppe Verdi
(Le Roncole, 10.10.1813 - Milão, 27.01.1901)


Nascido em Le Roncole, no dia 10 de Outubro de 1813, Giuseppe Verdi provinha de uma família de pequenos proprietários de terra. Aos sete anos, era organista da igreja local, San Michele Arcangelo. Em 1823, mudou-se para Busseto, para estudar em uma escola de música dirigida por Antonio Provesi. Quando terminou seus estudos, tentou entrar para o Conservatório de Milão, mas seu pedido foi recusado. Verdi passou a morar na cidade e começou a estudar composição com Vincenzo Lavigna, compositor e maestro do Teatro alla Scala.
Em Março de 1836, morando novamente em Busseto, Verdi foi nomeado maestro da Orquestra Filarmônica da cidade. Em Maio do mesmo ano, casou-se com Margherita Barezzi, amiga de infância e filha de seu benfeitor. Verdi retornou a Milão alguns anos depois, com sua jovem família.
Ele compôs uma ópera e tentou representá-la em Parma ou em Milão. O Scala aceitou seu pedido e a première da Oberto, Conte di San Bonifacio, sua primeira ópera, aconteceu em 1839. Oberto foi bem recebida pelo público e, como seu contrato com o teatro previa mais três óperas, Verdi começou a compor outra: Un Giorno di Regno. Teve de interrompê-la quando seus familiares ficaram doentes. Em um ano, Verdi perdeu o filho, a filha e a esposa. Como se não bastasse, Un Giorno di Regno foi um fracasso.
O compositor quase desistiu de sua carreira, mas o libretto de sua próxima ópera, Nabucco (1842), chamou muito a sua atenção. Foi aí que, segundo o próprio Verdi, "minha carreira musical realmente começou". Nabucco foi um sucesso estrondoso e Verdi tornou-se muito conhecido, sendo o compositor mais bem pago da época. A parte da Nabucco mais famosa é o coro "Va, pensiero", considerado um hino que representava Risorgimento [1]. Outros trechos de suas óperas ficaram extremamente conhecidas e são usadas até hoje em filmes e comerciais de televisão.
Nos anos seguintes, Verdi compôs mais de dez óperas. Esse período é chamado de anni di galera, pois ele trabalhava intensamente em suas criações. Todas essas óperas ainda fazem parte do Bel Canto tardio [2].
A ópera que proporcionou a Verdi uma fama imensa, inclusive em países em que era nada ou pouco conhecido, foi Rigoletto (1851). Nela ficou expresso todo o caráter dramático e expressivo do compositor. Essa ópera teve algumas de suas árias também imortalizadas, como "La donna è mobile" e "Caro nome".
Após a Rigoletto foi estreada a Il Trovatore (1853), outro sucesso de Verdi. Seis semanas depois, o compositor estreou La Traviata, que não foi um sucesso imediato, mas foi posteriormente reconhecida como obra de qualidade. Das duas óperas verdianas que estrearam em 1853, vários trechos ficaram célebres: "Brindisi", "Parigi o cara", "Sempre libera" e "Addio del passato", da La Traviata; "Stride la vampa!", "Mal reggendo all'aspro assalto" e "Di quella pira", da Il Trovatore. Depois delas, Verdi compôs outras obras-primas, além de fazer vários rifacimenti [3].
Depois de quinze anos sem nenhuma ópera nova, Verdi uniu-se ao librettista (e também compositor) Arrigo Boito para juntos criarem a Otello (1887). Sua première, no Scala, foi um enorme sucesso. Os cantores e Verdi tiveram de voltar ao palco mais de vinte vezes e o compositor ganhou inúmeros presentes dos espectadores, que escoltaram sua carruagem até o hotel em que estava hospedado.
Falstaff (1893), sua última ópera, fez muito sucesso e recebeu os mesmos cumprimentos do público do Scala. Com o libretto baseado na comédia The merry wives of Windsor ("As alegres comadres de Windsor"), de Shakespeare, Falstaff foi a segunda comédia verdiana depois de Un Giorno di Regno.
Verdi aposentou-se e mudou-se, com Giuseppina Strepponi (1815-1897) [4], para sua casa de campo em Sant'Agata. Eles viveram anos pacíficos até a morte de Giuseppina, em 1897. Verdi saiu de Sant'Agata e mudou-se para o Grand Hotel, em Milão. Após quatro anos infelizes, o compositor e maestro morreu, em 27 de Janeiro de 1901. Toda a Itália chorou sua morte. Conta-se que mais de 28.000 pessoas compareceram a seu enterro. Até hoje, Verdi é reverenciado como um dos maiores compositores de ópera e, mais particularmente na Itália, como herói da pátria.
Mais que sua qualidade musical inerente, as óperas verdianas são grandes e valiosas lições de História. Nelas quais se pode aprender tanto sobre os antigos egípcios (Aïda) até o século XIX (La Traviata) e mesmo saber sobre grandes batalhas e feitos de outrora.
Verdi, um importantíssimo marco para a ópera romântica, nunca será esquecido, como nunca são esquecidos os grandes gênios.

Lista das óperas compostas por Verdi
Entre parênteses, a tradução (se necessária), o nome do(s) librettista(i) e a data da première

- Oberto, Conte di San Bonifacio (Temistocle Solera; 1839)
- Un Giorno di Regno ("Um Dia de Reinado"; Felice Romani; 1840)
- Nabucco (Temistocle Solera; 1842)
- I Lombardi alla Prima Crociata ("Os Lombardos na Primeira Cruzada"; Temistocle Solera; 1843)
- Ernani (Francesco Maria Piave; 1844)
- I Due Foscari (Francesco Maria Piave; 1844)
- Giovanna d'Arco ("Joana d'Arc"; Francesco Maria Piave; 1845)
- Alzira (Salvatore Cammarano; 1845)
- Attila (Temistocle Solera; 1846)
- Macbeth (Francesco Maria Piave; 1847)
- I Masnadieri ("Os Bandoleiros"; Andrea Maffei; 1847)
- Jérusalem (Alphonse Royer e Gustave Vaëz; 1847) [versão francesa de I Lombardi alla Prima Crociata]
- Il Corsaro (Francesco Maria Piave; 1848)
- La Battaglia di Legnano (Salvatore Cammarano; 1849)
- Luisa Miller (Salvatore Cammarano; 1849)
- Stiffelio (Francesco Maria Piave; 1850)
- Rigoletto (Francesco Maria Piave; 1851)
- Il Trovatore (Salvatore Cammarano, completado por Leone Emanuele Bardare; 1853)
- La Traviata (Francesco Maria Piave; 1853)
- Les Vêpres Siciliennes (Charles Duveyrier e Eugène Scribe; 1855)
- I Vespri Siciliani (versão italiana de Arnaldo Fusinato; 1855) [tradução da Les Vêpres Siciliennes]
- Giovanna di Guzmán (modificação de Eugenio Caimi; 1855) [versão modificada da I Vespri Siciliani, devido à censura]
- Simon Boccanegra (Francesco Maria Piave; 1857)
- Aroldo (Francesco Maria Piave; 1857) [rifacimento da Stiffelio]
- Un Ballo in Maschera (Antonio Somma; 1859)
- La Forza del Destino (Francesco Maria Piave; 1862)
- Macbeth (Francesco Maria Piave; 1865) [rifacimento da Macbeth, esta é a versão mais apresentada atualmente]
- Don Carlos (Joseph Méry e Camille du Locle; 1867)
- La Forza del Destino (Francesco Maria Piave, revisado por Antonio Ghislanzoni; 1869) [rifacimento da La Forza del Destino, esta é a versão mais apresentada atualmente]
- Aïda (Antonio Ghislanzoni; 1871)
- Don Carlo (versão italiana de Achille de Lauzières, com partes adicionais de Antonio Ghislanzoni; 1872)
- Simon Boccanegra (Francesco Maria Piave, revisado por Arrigo Boito; 1881)
- La Force du Destin (versão francesa de Charles Nuitter e Camille du Locle; 1883)
- Don Carlo (revisão de 1884)
- Don Carlo (revisão de 1886)
- Otello (Arrigo Boito; 1887)
- Falstaff (Arrigo Boito; 1893)

Termina aqui este post sobre dois grandes compositores, essenciais para a História da ópera. Pretendo voltar em breve falando mais sobre compositores e obras!

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[1] O Risorgimento foi o período de luta pela unificação da Itália, antes formada por reinos e territórios independentes.
[2] Período que começa com a Semiramide (1823), de Rossini, e termina com a Il Trovatore. Seus principais representantes foram Gaetano Donizetti (1797-1848) e Vincenzo Bellini (1801-1835). Muito se falará desse período neste blog.
[3] Um rifacimento é a revisão de uma ópera anterior, estreando-a com algumas alterações no enredo - e, geralmente, outro nome.
[4] Giuseppina Strepponi foi uma das mais famosas sopranos de sua época. Foi a criadora de alguns papéis de óperas - como Abigaille, da Nabucco. Conheceu Verdi justamente por ocasião desta ópera, e passaram a viver juntos desde então. Casaram-se em 1859.